ESPIA SÓ!





Intervenção de teatro lambe-lambe, constituída de dois ambientes teatrais: uma tenda e três caixas, montadas por um grupo de ciganos, que apresentam seus espetáculos.  A Tenda atrai a curiosidade das pessoas e no interior das “caixas misteriosas” são apresentados, simultaneamente, três espetáculos para um espectador por vez.  Minutos de magia para espiar à vontade.


Espia Só! : Observar em segredo ou Maneira sobressaltada/admirada de convidar alguém para ver algo extraordinário.

"Como um buraco na fechadura, o teatro lambe-lambe nos dá uma brecha para que possamos espiar. Possui uma atmosfera mágica e provocativa, seja pelo segredo contido nela, pela minuciosidade ou pelo fato que aquela história está sendo contada somente para ela, está sozinha espiando."


Ficha técnica

Direção geral e produção: Jô Fornari
Direção de cena: Marcelo F. de Souza
Manipuladores: Jô Fornari, Sandra Knoll e Laércio Amaral
Cenografia: Roberto Gorgati
Designer gráfico e Figurino: Daniel Olivetto
Trilha sonora: Fernando Knoll , Fabio Kabelo  e Canção “Cais do corpo” de Paulo Freire
Orientador de pesquisa da cultura Cigana: Lourival Andrade Junior

Duração da intervenção: apresentações simultâneas das caixas durante 02 h


Necessidades técnicas

Espaço aberto ( praça, parque) ou espaço fechado amplo ( galpão, hall de entrada, pátio) com pé direito de no mínimo 7m de altura, espaço cênico 4m quadrados , 01 tomada ou ponto de energia nas proximidades.



Repertório

MARIA DO CAIS


Mulher poesia, mulher do porto. Cais dos amantes, dos perdidos.
Partindo da música Cais do Corpo de Paulo Freire, o espetáculo apresenta de forma poética e lírica o mito “Maria do Cais”.
Com: Jô Fornari
Duração: 4 min - Adulto




O QUARTO DE EDITH




O que será que existe de tão importante dentro do quarto de Edith para que Cindy, a gata manhosa e brincalhona, insista tanto em entrar?. Essa é uma aventura que pode nos levar a uma grande descoberta. Enquanto o público espia ela vai desvendando esse mistério.
Com: Sandra Knoll
Duração: 03m - Todas as idades

DO LADO DE LÁ




Às vezes desejamos a felicidade lá longe, sem perceber que ela pode estar...
Inspirado no livro " A flor do lado de lá"  de Roger Mello,  apresenta a história de uma boneca de pano e seu objeto de desejo.
Com Jô Fornari::Duração: 02m :: Todas as idades

BALDIO




Dois homens numa noite escura e sombria. Duas silhuetas vagando pela escuridão. Um carregando o outro dentre os detritos e sujeiras que se acumulam na cidade. Uma história de quem não sabe o que fazer, mas mesmo assim o faz.
Com Sandra Knoll:: Duração: 2´30” :: Adulto


A ILUMINAÇÃO



Uma história zen sobre um discípulo relaxado e um mestre surpreso!
Com Laércio Amaral:: Duração: 2’30” ::Todas as idades

Creditos das fotos : Guilherme Meneguelli, Renata Batista,  José Matarezi, Nubia Abe


A linguagem

O teatro lambe-lambe é uma linguagem de formas animadas que ocupa um espaço cênico mínimo formado por um palco miniatura confinado em uma caixa de dimensões reduzidas. Nesse espaço são apresentadas peças teatrais de curtíssima duração através da manipulação de formas animadas em miniatura . Essa linguagem aparece na Bahia  na década de 80, criada pelas bonequeiras Ismine Lima e Denise di Santos, inspirada nas antigas caixas de fotografia lambe-lambe.
Trata-se, portanto, de uma caixa-teatro individual, configurada para atender um espectador por vez - por um dos lados o manipulador encena o espetáculo e pelo outro o espectador espia - com uma estrutura técnica em miniatura e independente. Totalmente isolada de luz e sons externos, pois ambos (manipulador e espectador) possuem a cabeça coberta por um pano e os ouvidos protegidos por fones auriculares que transmitem a sonoplastia do espetáculo. No interior da caixa acontecem espetáculos que podem durar de 01 a 04 minutos.

O projeto

Iniciado em 2008, com apoio da Lei Municipal de Incentivo a Cultura de Itajaí, investiu na pesquisa e aprimoramento da linguagem do teatro miniatura, objetivando a criação de repertório de espetáculos e estrutura cênica para intervenção do teatro lambe-lambe.
Realizou-se uma oficina com a Cia Gente Falante de Porto Alegre, que fundamentou a investigação para o processo de criação e montagem dos espetáculos.
Durante 02 anos , pesquisamos e experimentamos materiais, técnicas, linguagens, poéticas, dramaturgias e estéticas. De forma colaborativa, trabalhamos na criação dramatúrgica dos espetáculos, permitindo a cada ator-manipulador total autonomia estética e poética na criação e montagem de suas cenas.
Durante todo o processo registramos os trabalhos através de fotografias, desenhos e maquetes, compondo também um acervo de imagens.
Em 2009, patrocinado pelo Premio Miriam Muniz de Teatro da FUNARTE e pelo Edital de fomento ao Teatro Elisabeth Anderle aprovado pela FUNDAÇÃO CATARINENSE DE TEATRO, o projeto ESPIA SÓ! Fase II deu continuidade ao processo de montagem, culminando na ampliação do repertório de espetáculos, na publicação da Revista Lambe-Lambe 01  ( registro escrito e fotográfico do Projeto ESPIA SÓ!) e na circulação do espetáculo em 04 cidades catarinense: Florianópolis, Joinville, Itajaí e Blumenau.



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Relato de Gisele Katopodis

“Teatro Lambe-lambe? Lambe-Lambe?Alguém lambe alguma coisa?
A caixa nos lambe, lambemos a caixa, boquiabertos com aquele espetáculo diminuto, mas tão grande ao alcançar-nos os sentimentos profundos. Não dá para ficar indiferente ao teatro lambe-lambe. Sabem quando lambemos os beiços por prazer, pela memória de algo delicioso? Foi assim quando estive presente na 1a. Mostra de Teatro Lambe-Lambe de Joinville.
Meti os olhos pelo buraco. Quem já não espiou pelo buraco da fechadura? Já começou por aí: espiando. Mas não é um espiar proibido, nem um espiar imbecil de “Big Brother”. Era um espiar gentil, um espiar-convite do artista para que entrassemos em seu mundo de fantasia, símbolos, mensagens, um convite a refletir ou apenas a curtir. E quanta delicadeza! Quanta arte naquele caixote!
Ah, o tocante universo das caixas!
Mas Lambe-Lambe é mais do que Pandora. Pois ali, a contação de história, mais do que ouvíamos, mais do que víamos, mais do que todo talento do ator em construir  cenários em miniatura, com efeitos sonoplásticos e de iluminação – até um palco giratório! de um verdadeiro jogo de cena, singelo, criativo, mais do que tudo isso, o teatro Lambe-Lambe traz a magia cênica da linguagem através das MÃOS!
As mãos, querendo ser invisíveis, eram visíveis em sua existência maior: são as mãos que dão vida aos bonecos, às dobraduras, a uma vassourinha, ao homem e ao animal, que dão movimento, ritmo, peso ou leveza. Mãos que acariciam, mãos que fazem amor, como em “Maria do Cais”, mãos miseráveis que arrastam a morte mas que também encontram a vida, como em “Baldio” e mãos que elevam e alcançam a Iluminação, como em “A Iluminação”.
As mãos são a essência do Teatro Lambe-Lambe.
E não lambemos os dedos para não desperdiçar o restinho de massa que fica na forma?
Com as minhas mãos em reverência, agradeço a todos estes artistas que nutriram minha Alma.


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Crítica do Espetáculo no II Festival Brasileiro de Teatro Toni Cunha - Itajaí 2011



Pequenos encantamentos ( por Lucianno Maza)


O teatro lambe-lambe, uma das linguagens marcantes da produção artística de Itajaí está presente em montagem da Cia. Andante

Por Lucianno Maza
Itajaí

O teatro lambe-lambe é uma linguagem cênica que teve como percursores no Brasil duas artistas nordestinas, mas hoje é também muito popular no sul do país. Cidades como Itajaí, onde o teatro de animação é bastante presente, têm tido contato continuamente com esse tipo de espetáculo minúsculo, feito com bonecos bem pequenos, dentro das antigas caixas dos fotógrafos lambe-lambe. Com peças de alguns minutos, apresentadas para uma pessoa de cada vez, evoca a ideia de confissão compartilhada pelo artista para o espectador na efemeridade de que aquele momento jamais se repetirá igual para o próximo espectador. 

A experiência de assistir a um tipo de espetáculo como esse, pelo buraco da caixa, se revela muito diferente de outras visualizações de obras de arte. A recriação do mundo em escala mínima se torna espaço infinito para o olhar cujo campo de visão é totalmente preenchido pela cena feita dentro da caixa. Diferente do teatro de palco, onde o espaço da ficção é bem delimitado e é possível ver seus limites com o espaço real - as bordas do palco, as paredes do edifício, as poltronas e outras pessoas -, o teatro lambe-lambe se torna sensorialmente um mergulho dentro da história apresentada e que toma toda caixa.

Mistérios
Nesse formato, cada ator cria de forma total e independente seu mini-espectáculo, concebendo da história à cenografia interna da caixa. “Espia Só”, da Cia. Andante, de Itajaí, Santa Catarina, é uma grande chance para conhecer essa recriação do teatro em miniatura.

O espetáculo, criado para ser apresentado em espaços públicos, sobretudo em ruas, usa a temática do acampamento cigano para contextualizar tematicamente a intervenção. É como se esse outro povo, o dos atores, como os ciganos, fosse forasteiro trazendo em suas tendas os mistérios e belezas das artes desconhecidas aos habitantes daquela terra.

Com direção geral de Jô Fornari, o espetáculo aponta uma consistente consciência da linguagem e o interesse em pesquisa-la e experimentá-la em diferentes contextos e possibilidades cênicas.

Três pérolas diferentes
No onírico e narrativo “Maria do Cais”, a inspiração é o mito umbandista homônimo, da pomba-gira que trabalha na beira do mar ou perto das embarcações. A música Cais do Corpo, de Paulo Freire, estabelece uma relação narrativa com as imagens produzidas. Quanto às soluções cênicas, a representação do marinheiro e da personagem mítica em fiapos cria um interessante movimento, especialmente quando um entra no outro sensualmente. Jô Fornari manipula os bonecos objetos com delicadeza e cria um clima de fantasia. 

O humor é a tônica de “A Iluminação”, que reproduz um espaço mais tradicional, com direito a abertura e fechamento de cortinas (no caso, biombos japoneses). A elevação espiritual de um discípulo relapso, para surpresa de seu mestre zen reflete a ideia budista que a iluminação pode surgir na imperfeição. Dessa vez, os bonecos seguem o clima nipônico em dobraduras de origami. Com sons onomatopeicos, as poucas ações feitas por Laércio Amaral, quando surgem, provocam graça e simpatia.

Já o angustiante “Baldio” tem como tema um homem vagando numa espécie de aterro sanitário no qual resume sua cidade, buscando o que há dentre os detritos. Ao som de ventos ou mares assustadores, a revelação do que o homem descobre sob o lixo é aterradora. Com apáticos rostos talhados em madeira, os bonecos são manipulados por Sandra Knoll que dispensa a luva preta - que se funde ao espaço - e veste luvas recortadas como os de uma catadora, fazendo uma interseção do corpo externo (a manipuladora) na criação da realidade interna da caixa, potencializando ainda mais a carga dramática.

As sonoplastias de Casa de Orates, Fabio Kabelo e Fernando Knoll dão o tom correto às três cenas. As caixas de teatro lambe-lambe estão dispostas em belíssima cenografia de Roberto Gorgati, uma tenda estilizada que remete aos povos ciganos e ao colorido circense, criando um cuidadoso ambiente de detalhes. Os figurinos de Daniel Olivetto têm o mesmo esmero e beleza.